O prédio onde funcionou a Boate Kiss, casa noturna onde um incêndio provocou 242 mortes há exatos dez anos, continua de pé. O imóvel, em que mais de 600 pessoas ficaram feridas, está tomado por intervenções em sua fachada, com pedidos por justiça e com homenagens às vítimas. A boate ficava na cidade de Santa Maria (RS), a cerca de 300 quilômetros da capital Porto Alegre.
O local, que serve como memória concreta do que aconteceu em 27 de janeiro de 2013, será substituído por um memorial quando o longo processo judicial para condenar os responsáveis pelo caso chegar ao fim.
Paulo Carvalho, integrante da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) explica que o projeto para o memorial já foi aprovado, estando em andamento para a fase de arrecadação. Ele é pai de Rafael Nunes Carvalho, que morreu no incêndio com 32 anos de idade.
Segundo Carvalho, foi feito um concurso para a escolha da proposta. Cerca de 130 projetos foram encaminhados e analisados por arquitetos convidados da Argentina, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.
As dez plantas finais foram encaminhados a uma comissão formada por familiares e “pessoas da sociedade” de Santa Maria.
A proposta escolhida é do arquiteto paulista Felipe Zene Motta. Segundo o texto explicativo do memorial, “por meio da apropriação coletiva do espaço, propõe-se transformar a perspectiva existente ligada ao trauma em um espaço de educação, troca e livre interação”.
“Esse já está aprovado. Já teria toda uma referência muito clara de segurança contra incêndios nesse projeto e ele tem está bem encaminhado. Não há nenhum outro problema a ser resolvido, só falta ser implementado”, diz Carvalho.
“O projeto do Memorial às Vítimas da Kiss busca ressignificar a área da boate em um lugar de respeito ao passado, conforto ao presente e esperança ao futuro”, destaca.
Como será o memorial
A fachada terá um muro de concreto e tijolos que bloqueia a visão de praticamente todo interior. A entrada e saída fica em uma abertura no meio. Segundo Motta, “a austeridade da fachada representa o luto”.
Na parte central do interior há um jardim circular cercado por 242 pilares de madeira. Cada um deles trará o nome de uma vítima e um suporte para posicionar uma flor.
“Ao atravessar essa barreira por sua abertura central, entra-se em um espaço de linhas leves, proporções delicadas e materiais agradáveis. Um espaço que, sendo circular, não possui lados, onde todos os visitantes se veem, identificam-se e confortam-se”, acrescenta o arquiteto.
“Atinge-se assim a transformação da memória negativa que existe ali em uma oportunidade de reflexão; busca-se, na coletividade, acolhimento e apoio para as famílias das vítimas e toda a comunidade de Santa Maria”, complementa.
Haverá também três ambientes além do jardim: um auditório; uma sala multiuso, que abrigará acervo de uma exposição permanente multimídia; e uma “sala única”, que abrigará a sede da AVTSM, assim como demais áreas de reunião e atividades coletivas.
Todas essas áreas poderão ser acessadas por meio de “portas pivotantes” constituídas pelos pilares de madeira em trechos específicos.