O Brasil parece estar longe de sair da crise que assombra o país há alguns anos. O desemprego já atinge 13,1 milhões de brasileiros. E o que mais assusta é o número de pessoas que passam fome no país.
O relatório internacional ‘O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018′, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), mostrou que a fome atinge 5,2 milhões de pessoas no Brasil.
Para se ter uma dimensão do tamanho do problema, a população do Uruguai é de 3,5 milhões de pessoas. O número de pessoas que passam fome no Brasil supera em 1,7 milhão a população inteira do Uruguai.
O Uruguai é um dos países economicamente mais desenvolvidos da América do Sul e tem o 52º melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo. O Brasil tem o 75º.
Durante a crise financeira de 2008–2009, o Uruguai foi o único país do continente americano que não passou por uma recessão econômica técnica (dois trimestres consecutivos de retração).
O Relatório Luz da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, realizado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil, diz que o Brasil corre o risco de ser reinserido no mapa da ONU.
O estudo aponta como riscos para o aumento da fome no país o avanço da pobreza, o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos, a alta do desemprego e o corte de pessoas beneficiadas pelo Bolsa Família.
O número de brasileiros que não fazem nenhuma refeição diária passou de 10 milhões, em 2013, para 19 milhões, em 2020, o que representa, em termos percentuais da população, 4,2% e 9%, respectivamente. Com a pandemia de Covid-19, a situação das famílias ficou ainda pior, principalmente devido ao aumento do desemprego e do custo de vida.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 19.134.556 de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar grave no ano passado; 24.284.652, em situação moderada; e 73.423.348, em insegurança leve.
Dentre as regiões do país, o cenário mais grave é no Nordeste, com 7.684.981 pessoas em situação de insegurança alimentar grave, seguido pelo Sul/Sudeste, com 7.453.958 nessa situação.
Grande parte dos brasileiros e brasileiras passando fome estão na zona residencial urbana (15.460.147).
Desmonte
O governo federal acabou com o Conselho de Segurança Alimentar Nutricional em 2019, órgão criado em 1993 e extinto dois anos depois, mas recriado em 2003 com um importante papel no sentido de fomentar políticas para levar segurança alimentar às populações mais vulneráveis.
Além disso, o alto índice de desemprego, na casa dos 14,7% da população economicamente ativa, a não correção do valor distribuído pelo Bolsa Família, a redução do auxílio emergencial somado ao aumento da inflação, especialmente para produtos alimentícios, são os elementos que contribuem para agravar a situação dos mais necessitados.
Pesquisa
A pesquisa Orçamentos Familiares, do IBGE, que foi publicada no ano passado, mostra que a situação de insegurança alimentar leve subiu 62,2% de 2013 até 2017/2018; a moderada, 76,1%; e a mais grave, 43,7%.
O levantamento é feito a cada cinco anos e, por essa razão, compara o ano de 2013 com 2018.