Na última sexta-feira, 29, a Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciou as discussões, que devem avançar ao longo desta semana, para avaliar e definir se o vírus da Covid-19 ainda representa uma emergência global. De acordo com o próprio órgão, o número de mortes semanais por infecções do vírus aumentou nas últimas semanas. Para dar uma panorama da situação no Brasil e no mundo, o infectologista e ex-secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn ponderou que ainda é preciso manter cuidados e ampliar a vacinação. “Soa a impressão de que a Covid-19 não mais estará presente entre nós e isso é uma inverdade. Nós precisamos continuar avançando nas vacinações. Para se ter uma ideia, nós ainda temos pessoas que não tomaram a vacina, pessoas que não fizeram o ciclo mínimo e básico de vacina através das duas doses de imunização. Nós já estamos falando especialmente em uma condição do surgimento e ocorrência das cepas da ômicron, que precisam de reforço através das novas doses. É a isso que temos que estar atentos e vigilantes, especialmente aqui no Brasil”, alertou.
Para o infectologista, é importante analisar que a situação epidemiológica é diferente em cada país e que outras nações ainda estão em fases iniciais do combate ao vírus: “A circulação das várias variantes, mas principalmente a vacinação, fizeram com que nós pudéssemos retomar às condições normais e às próprias aglomerações, inclusive sem uso de máscara. Isso é uma realidade para países como o Brasil e vários países da própria Europa que já entenderam isso, como a Espanha, a França, a Dinamarca e o Reino Unido, que já olham a questão pandêmica como sendo endêmica, como sendo uma necessidade nós encararmos o vírus como presente nas nossas vidas para sempre”, iniciou. “Mas nós sabemos que a realidade não é a mesma. Mesmo a realidade vacinal não acontece. Nos países da África, praticamente nós temos 32% deles que realmente receberam duas doses de vacina. O restante, portanto 68%, não receberam, não estão devidamente imunizados e ficaram à mercê da circulação do vírus. Portanto, temos que ter essa atenção. Apensar de não ser mais uma grande pandemia, com uma transmissão tão sustentada, nós temos que ainda manter a atenção e sermos muito conscienciosos, especialmente no Brasil”, acrescenta.
O médico exaltou as medidas de higiene que têm se mantido no cotidiano das pessoas e destacou que grupos de risco devem se manter alertas. “A população entendeu muito bem os riscos que ela corre em relação à Covid e outros vírus. Hoje, quando você chega em um determinado lugar a primeira coisa que você quer passar é o álcool gel. Se você foi cumprimentado por várias pessoas, você higieniza a sua mão, seja com o álcool em gel que você leva na bolsa ou com o do recinto que você esteja. Essa prática, que é higiênica não só para a Covid, mas para outras doenças, ela se faz premente”, resumiu.
“Temos que entender que algumas populações incorrem risco, mesmo vacinadas, de desenvolver doenças, especialmente os imunocomprometidos, pessoas que tomam medicações imunossupressoras, que suprimem a sua imunidade. Por serem transplantados de órgãos, pacientes diabéticos descontrolados, pacientes oncológicos, idosos e gestantes. Para essas pessoas é fundamental que ao entrar em ambientes fechados, ou com o mínimo de aglomeração, tenham sim esse cuidado. Felizmente, agora nós também teremos as doses de reforço através das vacinas bivalentes, que darão a possibilidade de nós incrementarmos a proteção através da produção de novos anticorpos”, explicou.
Gorinchteyn também fez um apelo á continuidade da vacinação de maneira anual para que a população se mantenha protegida: “Sabemos que muitos acabaram recontaminados por novas cepas, o que fez com que a apresentação clínica dessas pessoas fosse muito mais leve, muito mais branda, alguns dos quais sequer tiveram sintomas. E o mais interessante, nós vimos pacientes imunodeprimidos que acabavam tendo sintomas muito leves.
Isso é um bálsamo de proteção, a sensação de que a vacina é fundamental e tem que estar presente. Temos que olhar o Covid de uma forma de recompor as vacinações. Não vamos mais falar em quinta dose, sexta dose e oitava dose, mas em doses anuais de reforço”. “Revacinar é fundamental”, finalizou.