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terça-feira, 3 dezembro 2024 14:32

Decreto achado com Torres sobre mudar resultado da eleição

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A PF (Polícia Federal) encontrou na casa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres uma minuta para o então presidente Jair Bolsonaro (PL) decretar Estado de Defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em Brasília.

O objetivo do documento seria mudar o resultado da eleição. O ex-presidente perdeu o pleito para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Em seu perfil no Twitter, Torres disse que havia em sua residência uma “pilha de documentos para descarte” e que “muito provavelmente” a minuta estaria ali. “Tudo seria levado para ser triturado oportunamente no MJSP [Ministério da Justiça e Segurança Pública]. O citado documento foi apanhado quando eu não estava lá”, declarou.

O ex-ministro também disse que a minuta encontrada foi vazada “fora de contexto”, o que teria ajudado a “alimentar narrativas falaciosas” contra ele.

“Fomos o primeiro ministério a entregar os relatórios de gestão para a transição. Respeito a democracia brasileira. Tenho minha consciência tranquila quanto à minha atuação como Ministro”, declarou.

Conforme a Constituição, o presidente da República pode, depois de ouvir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar Estado de Defesa para “preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza”.

Torres teve a prisão preventiva decretada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, na 3ª feira (10.jan). A determinação respondeu à representação apresentada pelo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. Torres mora em Brasília, no bairro Jardim Botânico. Os agentes saíram do local com um pacote, colocado no carro da corporação.

A PGR (Procuradoria Geral da República) enviou ao STF um pedido de abertura de inquérito contra Torres e o governador afastado do DF, Ibaneis Rocha (MDB), na 3ª feira (10.jan).

Torres é acusado pelas autoridades de ser omisso sobre os atos envolvendo vandalismo e invasões às sedes dos Três Poderes da República em Brasília no 8 de Janeiro.

Ele foi demitido da Secretaria de Segurança Pública do DF por ordem do governador, agora afastado, Ibaneis Rocha, no mesmo dia em que os extremistas invadiram o Congresso, o Planalto e o STF.

Torres assumiu o cargo depois de chefiar o Ministério da Justiça e Segurança Pública em 2021 e 2022 no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

TRANSCRIÇÃO

Leia a seguir a transcrição da minuta de decreto que baixava Estado de Defesa na Justiça Eleitoral e que permitia revisar resultado da eleição:

“O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso de suas atribuições que lhe conferem os artigos 84, inciso IX, 136, 140 e 141 da Constituição,

“DECRETA:

“Art. 1° Fica decretado, com fundamento nos arts. 136, 140, 141 e 84, inciso IX, da Constituição Federal, o Estado de Defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, Distrito Federal, com o objetivo de garantir a preservação ou o pronto restabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral presidencial do ano de 2022, no que pertine à sua conformidade e legalidade, as quais, uma vez descumpridas ou não observadas, representam grave ameaça à ordem pública e a paz social.

  • 1°. Fica estipulado o prazo de 30 (trinta) dias para cumprimento da ordem estabelecida no caput, a partir da data de publicação deste Decreto, podendo ser prorrogado uma única vez, por igual período.
  • . Entende-se como sede do Tribunal Superior Eleitoral todas as dependências onde houve tramitação de documentos, petições e decisões acerca do processo eleitoral presidencial de 2022, bem como o tratamento de dados telemáticos específicos de registro, contabilização e apuração dos votos coletados por urnas eletrônicas em todas as zonas e seções disponibilizadas em território nacional e no exterior.
  • . Verificada a existência de indícios materiais que interfiram no objetivo previsto no caput do art. 1° a medida poderá ser estendida às sedes dos Tribunais Regionais Eleitorais.

“Art. 2° Na vigência do Estado de Defesa ficam suspensos os seguintes direitos:

“I – sigilo de correspondência e de comunicação telemática e telefônica dos membros do Tribunal do Superior Eleitoral, durante o período que compreende o processo eleitoral até a diplomação do presidente e vice-presidente eleitos, ocorrida no dia 12.12.2022.

“II – de acesso às dependências do Tribunal Superior Eleitoral e demais unidades, em caso de necessidade, conforme previsão contida no §3º. do art. 1°.

  • . Durante o Estado de Defesa, o acesso às dependências do Tribunal Superior Eleitoral será regulamentado por ato do Presidente da Comissão de Regularidade Eleitoral, assim como a convocação de servidores públicos e colaboradores que possam contribuir com conhecimento técnico.

“Art. 3° Na vigência do Estado de Defesa:

“I – Qualquer decisão judicial direcionada a impedir ou retardar os trabalhos da Comissão de Regularidade Eleitoral terá seus efeitos suspensos até a finalização do prazo estipulado no §1°, art. 19,

“II – a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que poderá promover o relaxamento, em caso de comprovada ilegalidade, facultado ao preso o requerimento de exame de corpo de delito à autoridade policial competente;

“III – a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação;

“IV – a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;

“V – é vedada a incomunicabilidade do preso.

“Parágrafo único. O Presidente da Comissão de Regularidade Eleitoral constituir-se-á como executor da medida prevista no inciso I, do $3° do art. 136, da Constituição Federal.

“Art. 4º A apuração da conformidade e legalidade do processo eleitoral será conduzida pela Comissão de Regularidade Eleitoral a ser constituída após a publicação deste Decreto, que apresentará relatório final consolidado conclusivo acerca do objetivo previsto no caput do art. 19.

“Art. 5° A Comissão de Regularidade Eleitoral será composta por:

“I – 08 (oito) membros do Ministério da Defesa, incluindo a Presidência;

“II – 02 (dois) membros do Ministério Público Federal;

“III – 02 (dois) membros da Polícia Federal, ocupantes do cargo de Perito Criminal Federal;

“IV – 01 (um) membro do Senado Federal;

“V – 01(um) membro da Câmara dos Deputados;

“VI – 01(um) membro do Tribunal de Contas da União;

“VII – 01 (um) membro da Advocacia Geral da União; e,

“VIII – 01 (um) membro da Controladoria Geral da União.

“Parágrafo único. À exceção das autoridades constantes do inciso I, cuja indicação caberá ao Ministro da Defesa, as indicações dos membros dos órgãos e instituições que integrarão a Comissão de Regularidade Eleitoral deverão ser feitas em até 24 (vinte e quatro) horas após a publicação deste Decreto no Diário Oficial da União, devendo as designações serem formalizadas em ato do Presidente da Comissão de Regularidade Eleitoral.

“Art. 6°. Serão convidados a participar do processo de análise do objeto deste Decreto, quando da apresentação do relatório final consolidado, as seguintes entidades:

“I – 01 (um) Integrante da Ordem dos Advogados do Brasil

“II – 01 (um) representante da Organização das Nações Unidas no Brasil

“III – 01 (um) representante da Organização dos Estados Americanos no Brasil (Avaliar a pertinência da manutenção deste dispositivo na proposta)

“Art. 7º. O relatório consolidado final será apresentado ao Presidente da República e aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, e deverá conter, obrigatoriamente:

“I – apresentação do objeto em apuração

“II – a metodologia utilizada nos trabalhos

“III – as contribuições técnicas recebidas

“IV – as eventuais manifestações dos membros componentes

“V – as medidas aplicadas durante o Estado de Defesa, com as devidas justificativas

“VI – o material probatório analisado

“VII – a relação nominal de eventuais envolvidos e os desvios de conduta ou atos criminosos verificados, de forma individualizada.

“Parágrafo único. A íntegra do relatório final consolidado será publicada no Diário Oficial da União.

“Art. 8° Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

“Brasília,  de      de 2022.

“201° ano da Independência

“134º ano da República

“Jair Messias Bolsonaro”

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